Sou o Paulo. Me chamo Paulo Nazareth. Esse Nazareth é pela mãe da minha mãe. Nazareth Cassiano de Jesus. Então, Nazareth é um nome e não um sobrenome. Nazareth Cassiano de Jesus. Nascida lá no Vale do Rio Doce, de origem Borum. Eu carrego esse nome porque ela foi enviada para o Manicômio de Barbacena no final de 1944 pra 45. Logo que a minha mãe tinha nascido. Entre os 4 e 8 meses de idade da minha mãe. E, minha mãe nunca viu ela depois disso. E, aí, depois, eu vou aprendendo cada vez…Buscando sobre essa história… Ser Nazareth é ser meu trabalho. Esse me tornar. Então quando eu passo a me nomear Paulo Nazareth isso também é meu trabalho. Eu passo a carregar esse ancestral. Minha avó passa a ser essa espécie de carranca, né? Essa proteção. Esse Egum que anda comigo e que me protege. Isso eu começo a carregar comigo…

Quando eu chego aqui… Quando eu vou nascer a gente tava no Morro do Carapina. A minha mãe desce o Morro do Carapina até o Hospital Santa Terezinha, que ficava no pé do morro, e é lá onde eu vou nascer. E, aí, depois, a minha mãe volta lá pro Morro do Carapina. Aí, a gente vai morar no barraco que era o Barraco de Exu. Porque os barracos de aluguel era um terreiro que tinha sido desativado. Aí, o moço aluga os barracos de santo e a gente fica morando nesse lugar por muito tempo assim. Eu gosto de lembrar essa história porque isso vem aparecer mais tarde muito no trabalho que eu realizo. Então, essa questão do santo, do orixá, do nkisi… Tudo isso… Isso já vem antes de mim… E, eu gosto de pensar isso. Então, é essa relação do trabalho de arte que vai e volta. Eu fico pensando nessas histórias que se chocam. Minha avó. A mãe da minha mãe. E, aí, carregar esse nome é importante pra mim. Costumo pensar que eu carrego esse nome e sou carregado por ele.

Eu de batismo sou Paulo Sérgio da Silva e continuo sendo Paulo Sérgio da Silva. Isso é importante também! Essa relação desses dois nomes. Porque um é o nome. O artista. O outro acaba sendo a pessoa. E, elas convivem no mesmo corpo, mas se apresentam de formas diferentes. Então, é muito importante continuar sendo Paulo Sérgio da Silva, porque Paulo Sérgio da Silva é a pessoa. É o ser comum. É o não-artista. Isso permite eu viver outras situações que o Paulo Nazareth não vive. A questão do documento. Cruzar uma fronteira. Chegar em uma instituição que talvez seja aberta para o Paulo Nazareth, mas esse mesmo lugar é fechado para o Paulo Sérgio da Silva. Então, esse também é o trabalho! Eu sou… E, talvez por eu ser geminiano, né? Também ter esses dois seres em um.

E, aí, o Paulo Nazareth acaba se tornando também essa firma. Eu fico jogando com essa firma lá em Santo Antônio das Figueiras. Que é… a firma. É uma empresa. Firma ou assinatura. Eu fico jogando com isso. Que o artista acaba se tornando essa firma. Essa marca. Quase que uma empresa que produz coisas. E, aí, eu jogo com isso.

Artista visual. Bacharel em Desenho e Gravura pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (BH). Apresentou trabalhos no 6° Festival de Arte Negra (2012) e no 8° Festival de Arte Negra (2015). Registros fotográficos realizados pelo artista Wagner Leite Viana no ateliê do artista localizado no bairro Palmital, município de Santa Luzia, Minas Gerais.Transcrição parcial da entrevista realizada pela artista e pesquisadora Janaina Barros Silva Viana na Exposição Faca Cega no Museu de Arte da Pampulha para o arquivo digital Epistemologias Comunitárias em 2019.