O dono da minha cabeça

me dá sentido,

faz meu coração bater

forte como trovão.

É tu Airá,

dono da minha cabeça,

tua força é a minha certeza na vitória,

na ponta da espada.

Diante do inimigo tenho medo,

porque tu Airá, me pede para cortá-lo ao meio.

E Xangô faz meus olhos ficarem vermelhos,

vermelhos como brasa,

porque também sou seu Ojuobá,

Xangô é o dono do meu coração,

cuspo fogo quando clamo por ti na guerra,

destruo meu inimigo , que é de ti também. (…)

(Moreira, António Sérgio. Nós dois. Poema escrito em 2007. In: Objeto Oriki. Corpus e habitus= arte, 2012)

Meu nome é António Sérgio Moreira. Nasci em 1963. Sou mineiro de Belo Horizonte. Todo o meu processo de trabalho, independentemente da religiosidade, se equilibra dentro de um universo de tempo circular, que é também, base de uma religiosidade de matriz africana. Eu desenvolvo todo esse processo criativo… Ora, eu estou falando de oríkìs. Ora, eu estou falando de diáspora. Ora, eu estou falando de arte contemporânea. Quando estou falando do universo que trago de referência e que me dá equilíbrio… Eu estou usando o objeto oríkì. Quando estou falando de diáspora… Estou falando dos trânsitos dos negros pelo mundo.Quando eu estou falando de arte contemporânea… Estou executando o meu saber (que eu me formei ao longo desses anos para fazer este ofício)…O fazer artístico…

Artista visual, curador e pesquisador. Foi curador do Festival de Artes Negras (FAN) entre os anos de 2007 e 2013 em Belo Horizonte. Destaca-se a exposição coletiva Deumlugarnomundo com a participação das artistas Sonia Gomes, Lídia Lisboa, Renata Felinto e Criola. Transcrição parcial da entrevista realizada pela artista e pesquisadora Janaina Barros Silva Viana na casa/ateliê do artista em Belo Horizonte (MG) para o arquivo digital Epistemologias Comunitárias em 2019.