Eu me chamo Mariana de Matos. Eu venho de Governador Valadares, uma cidade ao leste de Minas Gerais. É uma cidade do interior de Minas… na época que eu residia lá não tinha universidade de Artes Visuais. Então, meu percurso se deu de forma natural mesmo.Eu fui para Belo Horizonte para me formar. Estudei quatro anos na Escola Guignard. Então, era uma escola que tinha uma perspectiva bem eurocêntrica de arte. Até um pouco elitista também, como a gente compreende que é a educação formal em arte. E, aí, durante esse processo todo, entendendo essa perspectiva estritamente eurocêntrica, eu fui despertando o desejo, a inquietação, e fui me sentindo instigada para compreender… Por que existia um recorte tão sólido, como se isso fosse de fato o que existe de valor dentro da produção artística mundial?
(…)
Então, meu processo de formação… Eu entendo que ele se dá mais nas lacunas da educação formal. Do que propriamente nos quatro anos de experiência universitária. Nesses anos, eu morei durante onze anos em Belo Horizonte… Então, nesse processo eu comecei a visitar Recife porque eu tinha também muito interesse em entender um pouco o modo de vida pra além do sudeste. A realidade é essa! Eu tinha muita vontade de compreender outras maneiras de organização social… Enfim… E, chegando em Recife, eu entendo, também, que tinha uma espécie de imaginário em relação ao nordeste. É um imaginário que só você tendo uma vivência muito específica para conseguir ir desmontando… em relação ao nordeste e ao sudeste. Toda uma questão que é uma geopolítica brasileira e que a gente acaba sendo induzido muito por isso! Por esse território inventado. Ou, por aspectos inventados desse território. E aí, eu vim entender, por exemplo, que eu queria. Porque é uma parte do meu processo criativo. Meu trabalho, ele fica muito numa fruição entre a palavra e a imagem. Tem uns limites meio borrados, porque o meu processo criativo se dá muito assim, sabe?
Eu me entendo mais como artista pesquisadora. Aí, eu vou fazer um processo de imersão. Vou me debruçar em relação a isso, estudar essas questões nas mais possíveis linguagens específicas, como ela se manifesta. Eu vou trabalhando… Não parte sempre necessariamente de um desenho ou de uma materialidade… É, mais assim, uma ideia, uma sensação… E, aí, como investigar essa sensação? Eu tinha muita vontade de entender discursivamente… Digamos assim… Entender como se constroem esses discursos que assentam e legitimam essas coisas que a gente está falando. Essas ausências. Esses recortes. Esses processos de dominação. Sabe? Entendendo mesmo qual é o papel da escrita, da palavra e da literatura dentro dessa organização, que a gente pode chamar de organização, dentro dessa ordem de mundo. Então, eu me reconheci! Eu entendi um pouco que dentro de… um lugar… um ponto de encontro… Vamos dizer assim… Entre o meu interesse em relação à linguagem que é poética e visual, eu entendi que existia uma questão específica, que era onde eu me encontrava. E é o que eu entendo que mobiliza parte do meu trabalho hoje que é a questão da subjetividade negra.
Eu precisei fazer um trânsito bem extenso para compreender que através de processos históricos, a gente tinha sido narrado como uma espécie de força física que não era apta a desenvolver atividades sensíveis. E que isso foi feito especificamente para monetizar corpos no período da escravidão e que, pra mim, fazer o caminho inverso, tinha a ver com renarrar as coisas a partir de uma perspectiva sensível.
Artista e poeta. Graduada em Artes Visuais pela Escola Guignard da Universidade do Estado de Minas Gerais. Mestranda em Teoria Literária pela Universidade Federal de Pernambuco. Fundou o selo de poesia expandida Bendito Ofício e a organização MUNA (Mulheres Negras nas Artes). Transcrição parcial da entrevista realizada pela artista e pesquisadora Janaina Barros Silva Viana via Skype para o arquivo digital Epistemologias Comunitárias em 2019.
TERRITÓRIOS PERFORMATIVOS:
O LUGAR DA POÉTICA:
O LUGAR DA AUTORIA:
1.
RETRATO
Epistemologias Comunitárias , 2019
Mariana de Matos (Maré de Matos)
Laboratório de Culturas e Humanidades (Labcult )
Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais
Áudio/ Captação de imagem (Skype): Janaina Barros Silva Viana
Registro fotográfico/Cinegrafista: Wagner Leite Viana
Edição de imagens/transcrição/tradução: Rogério Rodrigues
Ana Carolina Horikawa
Supervisão residência pós-doutoral: Maria Aparecida Moura
2.
RETRATO
Epistemologias Comunitárias , 2019
Mariana de Matos
Laboratório de Culturas e Humanidades (Labcult )
Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais
Áudio/ Captação de imagem (Skype): Janaina Barros Silva Viana
Registro fotográfico/Cinegrafista: Wagner Leite Viana
Edição de imagens/transcrição/tradução: Rogério Rodrigues
Ana Carolina Horikawa
Supervisão residência pós-doutoral: Maria Aparecida Moura
OUTROS TERRITÓRIOS:
Encontros de interrogação, 2017
Mariana de Matos
Itaú Cultural
Entrevista e roteiro: Gabriel Carneiro (terceirizado)
Captação e edição: Belluah Produções
Mariana de Matos e Oswaldo de Camargo
O negro na literatura – Diálogos Ausentes (2017)
Itaú Cultural
Captação: Vocs
Edição: Belluah Produções
Afronta!, 2017
Mariana de Matos
Direção e roteiro: Juliana Vicente
Canal Futura
Produção: Preta Portê Filmes
TV Preta
Fundamento, 2019
Mariana de Matos (Maré de Matos)
Léo Castilho
PÁGINA SOBRE A ARTISTA:
Instagram: @maredematos