Parabéns, Vó![1]
– Eu sabia…
– Tudo bom?
– Tudo!
– Quantos anos a senhora tá fazendo?
– Setenta e… Setenta e sete!
– Setenta e sete?
– É… Eu ia pra lá… Mas, segurando Karina, meu filho…
– Segurando Karina? Aonde?
– Já saiu pra rua… Vai ali nos milhos… Olha! Vai ver o milho como cresceu, Wagner!
– Dá pra filmar ele daqui do quarto?
– Dá pra você tirar ali ou aqui… Aqui na área… Aqui do lado de fora…
– Eu vou fazer assim… Vou fazer uma daqui até lá. E, depois, eu dou a volta. Arrodeio… E, pego ele inteiro.
– Porque eu tô vendo ele daqui da janela. Oh!
– Tá vendo?
– Isso!
– Então você vai ver… Você pega o pé de mamão… Mas, tá crescendo Wagner, só que tem que… É o milho que seu pai trouxe de Pernambuco. Trouxe uns caroços, mas tava todo bichado… E no bichado eu ainda consegui nascer uns pézinhos.
– Esse que… Ah, certo!
– Ele disse que é de 4 mês meu filho. Mas, consegui! Agora, eu fui besta, plantei um pouco, o sol pegou eu parei.
– É agora que começou o…
– E tá botando boneca! Viu como ele tá aumentando?
– Isso! Então, a senhora vai ter em janeiro?
– É pode ser! Janeiro pra fevereiro. Mas, é tudo espiguinho… Cabelinho vermelho… Mas, eu vou conseguir!
– Finalzinho de janeiro?
– Ele disse que o Manel falou que é de 4 mês, o daqui é 6 mês. Agora eu misturei. Plantei do milho daqui e plantei do milho de lá. Mas eu vou tirar… Toma um cafezinho, filho! Eu fiz ainda agora…
Difícil… Porque… Tem toda uma reflexão que eu fui fazer nessa escrita no período do doutorado. Posso até citar aqui esse (trabalho)… Tudo pra mim vai virando trabalho. Trabalho de poética em artes. Eu tenho um folheto que cruza pra mim com várias questões da minha história. Principalmente, duas referências… Duas pessoas que tão implicitamente referenciadas aqui no processo de construção (de minha poética) que é minha avó paterna e meu avô paterno… Eu escrevi um folheto que vou distribuindo… Distribuía na escola… Eu sempre trabalhei na educação básica desde que eu me formei em 2003. E, de lá pra cá, eu sempre tenho atuado nas escolas públicas. Principalmente escolas públicas. Passei por escolas particulares também.
Mas, nesse folheto tem aqui (escrito):
Entregue para 5 pessoas um papel dobrado com uma mensagem de resistência escrita nela e peça para abri-lo em local seguro longe da polícia. Solicite a elas que repitam o gesto com outro grupo de mesmo número e que cada uma por sua vez também faça o mesmo. Toda pessoa que realizar esta ação será considerada iniciada.
5×1=5
5×5=25
5×25=125
5×125=625
5×625=3125…
[1]Dona Júlia Martina Viana (PE 1938- SP 2015). Este diálogo foi registrado pelo artista Wagner Leite Viana no dia 25 de dezembro quando completou 77 anos apenas uma semana antes de seu falecimento.
Artista visual, pesquisador e Professor Adjunto da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais. Ministra as disciplinas Educação Ambiental e Educação para as Relações étnico-raciais nesta instituição. Estas disciplinas apresentam como interlocução entre si a discussão sobre racismo ambiental, racismo sistêmico, saberes tradicionais e metodologia em arte contemporânea de autoria negra. Na pesquisa de doutorado Tipotetraletra: sobre arapucas, pesquisa, mukambus ou suporte defendida pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (2015), reflete sobre as estratégias metodológicas e epistemologias de processo a partir de sua poética (arte gráfica, performance, desenho, pintura). Transcrição parcial da entrevista realizada pela artista e pesquisadora Janaina Barros Silva Viana na Escola de Belas Artes para o arquivo digital Epistemologias Comunitárias em 2019.
TERRITÓRIOS PERFORMATIVOS:
O LUGAR DA POÉTICA:
O LUGAR DA AUTORIA:
1.
RETRATO
Epistemologias Comunitárias, 2019
Wagner Leite Viana
Laboratório de Culturas e Humanidades (Labcult )
Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais
Áudio/ Captação de imagem (Skype): Janaina Barros Silva Viana
Registro fotográfico/Cinegrafista: Wagner Leite Viana
Edição de imagens/transcrição/tradução: Rogério Rodrigues
Ana Carolina Horikawa
Supervisão residência pós-doutoral: Maria Aparecida Moura
2.
RETRATO
A roupa é vermelha de terra, 2020
Videoperformance
Wagner_Janaina
Projeto Mau Olhado Bem Olhado II
Casa Fiat de Cultura
OUTROS TERRITÓRIOS:
Exposição Afro como ascendência, Arte como procedência, 2013
Wagner Leite Viana
Entrevista Nabor Jr
SESC Pinheiros (SP)
Processo mau-olhado bem olhado: oração sobre nossas águas
Videoperformance
Wagner_Janaina
Encerramento as atividades da 1ª Semana Negra do APUBH no dia 29/11/2019
Auditório Luiz Pompeu de Campos – Faculdade de Educação -UFMG
Exposição “Mau Olhado Bem Olhado II, 2020
Percursos virtuais I
Wagner_Janaina
Piccola Galleria
Casa Fiat de Cultura
Programa Educativo
Exposição “Mau Olhado Bem Olhado II, 2020
Percursos virtuais II
Wagner_Janaina
Piccola Galleria
Casa Fiat de Cultura
Programa Educativo
Exposição “Mau Olhado Bem Olhado II, 2020
Percursos virtuais III
Wagner_Janaina
Piccola Galleria
Casa Fiat de Cultura
Programa Educativo
Exposição “Mau Olhado Bem Olhado II, 2020
Percursos virtuais IV
Wagner_Janaina
Piccola Galleria
Casa Fiat de Cultura
Programa Educativo
PÁGINAS SOBRE O ARTISTA:
https://medium.com/@wagnerleiteviana/tretaletra-1451e040d934
http://centrocultural.pagina-oficial.ws/site/catalogo-da-i-mostra-do-programa-de-exposicoes-2018/
http://segundapreta.com/processo-mal-olhadobem-olhado-oracao-sobre-nossas-aguas/
http://www.coloquio.poeticasdaexperiencia.org/wagner-leite-viana/
https://teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27159/tde-21102016-094218/pt-br.php
https://diasporagaleria.com.br/project/wagner-e-janaina/