Eu acho que eu sempre produzi… Eu morava no interior. Eu fiz Direito no interior… Mas, esse negócio de ser artista… Eu nunca pensei! Principalmente, porque, eu não sabia desenhar da maneira clássica que se desenha. E, naquela época, ir para uma escola de arte era impossível. Jamais me manteria dentro de uma escola de arte, que era só pra gente que tinha um poder aquisitivo maior. Então, fiquei no Direito… Foi mais como um trampolim, mesmo, pra eu sair do interior. Porque eu queria vir pra capital. Então, eu falo com você que eu sempre fiz… É… Porque eu era como uma… como diz um professor meu:

– Uma instalação ambulante…

Eu colocava tudo em mim… Eu nunca gostei de roupa em vitrine. Eu gostava sempre de garimpar. Nunca gostei da coisa assim muito pronta! Então, eu gostava de garimpar e costurar. Eu nunca… Até tive oportunidade de aprender, mas não tive paciência! Ficava aquela coisa muito certinha. E, eu desconstruía minhas roupas, era na mão mesmo!

– Ah, não! Essa manga não é legal…

Aí, cortava, dava uma ajustada, sabe? Nas saias eu bordava. Rasgava. Dentro dessa ação que eu fazia… Bijuteria… Sabe? Então, às vezes, eu acho que depois eu pensando sobre isso, talvez, eu faria isso pra ser visível mesmo! Queria nada igual de ninguém. Porque eu nunca era vista! Em lugar nenhum… Então, assim, eu acho que o artista… Quando é artista, alguma fase da vida, aquele negócio sai. Eu tive sempre essa ação rebelde com o fazer da roupa e das bijuterias! Eu não queria andar igual a ninguém. Eu sempre procurava um diferencial. Eu sempre tive dificuldade em comercializar, porque tinha essa estética africana. Agora, essa estética foi muito sufocada em mim. Mas, eu nunca… Quando eu comecei a fazer as coisas, as pessoas sufocavam isso:

– De negro…

– Não sei o quê…

Mas, eu sempre quis dar evidência nisso… Porque eu acho a estética maravilhosa (…)

A diferença é que eu acho que nas coisas que eu estava procurando já era arte. Porque eu adoro arte popular. Eu gosto de artesanato. É no fazer que, às vezes, vai surgindo coisas inesperadas… No gesto do amarrar, do colocar o pano… Ás vezes surge uma coisa…

– Nossa! Isso aqui ficou lindo! Vou explorar isso…

Então é um processo intuitivo, mas muito pensado também. Porque, às vezes, até penso em alguma coisa pra fazer, alguma forma, um desenho, assim… E, no fazer vai tomando outra direção. Então eu sempre falo:

– Eu tenho que escutar o material…

Artista visual. Participou da 7 ª edição do Festival de Arte Negra com a exposição coletiva Deumlugarnomundo (2013) no Espaço CentoeQuatro. Transcrição parcial da entrevista realizada pela artista e pesquisadora Janaina Barros Silva Viana no ateliê da artista Sonia Gomes em São Paulo para o arquivo digital Epistemologias Comunitárias em 2019.